segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O relacionamento com a doença




A doença é algo que temido pelos humanos, pois perante ela relembramos a nossa fragilidade e a nossa condição temporária. A doença é um lembrete para que nos foquemos no que é essencial e funciona como uma chamada de despertar quando estamos de tal modo desconectados da essência e valorizamos aquilo que é acessório, que serve apenas como endereço de uma vaidade individual que nos aliena da verdade do que somos para lá do aparente, do visível.

As doenças não são todas iguais, umas são mais ligeiras que outras e ninguém está isento de as sofrer, elas não resultam de qualquer castigo divino dos que se portam menos bem. Tomando como exemplo as crianças de tenra idade que sofrem de doenças terminais, estas não tiveram ação suficiente na realidade humana para terem "merecido" tal destino.

As doenças acontecem não apenas a um individuo apenas, mas também afecta a vida daqueles que com ele vivem ou lidam com frequência. E nessa perspetiva ampla se poderá entender as doenças que vitimam as crianças, no impacto que tem diretamente na criança e na sua família imediata e nos seus próximos.

O que aqui foi escrito serve para realçar a ideia que mais do que a doença aquilo que é verdadeiramente relevante para o seu impacto é a relação que o doente, e os que o rodeiam, estabelece com a doença.

A doença é algo que acontece ao doente, mas não o define, não se apropria dele, a não ser que o doente assim o permita. 

Nem sempre o doente tem a capacidade de por si só estabelecer uma relação de poder sobre a doença, no sentido de não permitir que esta o defina, que esta se torne algo que faça parte da sua personalidade, de algo que a defina enquanto pessoa.

Dando como exemplo a depressão, uma pessoa pode estar deprimida, mas isso é diferente de ser uma pessoa deprimida, de ser depressiva. A doença é temporária, dure o tempo que durar, mas não reflete a condição do ser humano, em essência ele continua sendo pleno e perfeito como é.

O mais relevante é a relação que se estabelece com a doença, quando se permite que ela se torne parte da identidade da pessoa, ela ganha força e poder sobre a pessoa e condiciona bastante, quando não totalmente, a vida da pessoa. Por outro lado quando se usa a doença como um alerta, como um sinal de que deve parar e procurar conhecer-se melhor, investir no autoconhecimento e indo dentro de si procurar as respostas que o libertem de tal prisão.

Isto não impede que se usem todos os meios humanos conhecidos no tratamento das doenças, pois muitas delas são bastante agressivas e exigem respostas imediatas, que devem ser usadas, sem contudo descurar esta parte relacional com a doença, que cabe ao próprio, ainda que com ajuda se for necessário.

Quanto melhor se conhecer e mais conectado com a sua essência estiver, melhor preparado estará para lidar com qualquer doença, isto não significa que perante doenças extremas não venha a perecer com as mesmas, mas significa que não permite que a doença o controle e determine o seu valor, pois este é muito maior que qualquer doença.

Assim como você é, é perfeito e doença alguma pode beliscar isso. 

Quanto mais presente para aquilo que é estiver menos necessidade de controlo tem, pois sabe que a vida o apoia e guia e a vida sabe sempre o que é o melhor para si e para o seu papel nesta vida. Por vezes o seu papel pode ser o de ser um exemplo de como lidar como uma doença terminal e ser uma inspiração para aqueles que lidam consigo para que se conheçam melhor e desfrutem da vida momento a momento.

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