quinta-feira, 24 de abril de 2014

Sofro mais do que tu



Enquanto humanos deparamos por vezes com uma espécie de campeonato de sofrimento, onde cada um tenta provar que a sua vida é mais difícil que a do outro. Comentários do género,"se te acontecesse o mesmo que a mim, tua ias ver o que é sofrer", ou então quando as pessoas fazem o inventário das suas doenças para provarem que são mais sofredoras.

Mesmo naqueles que procuram se conhecer melhor, que procuram respostas para as suas dúvidas, que procuram evoluir conscientemente, espiritualmente; alimentam a ideia de que apenas aqueles que sofreram muito, que passaram por grandes provações, são merecedores de evoluírem, de atingirem o despertar de consciência, de alcançarem a iluminação.

Seja de uma forma ou de outra, e todas as outras por meio; na verdade tudo isso resulta da ação do ego, resulta de uma identificação plena com essa ideia de limitação que é o ego, essa personalidade que cremos ser.

O sofrimento é sempre opcional, por muito que esta afirmação possa chocar, aquele que se choca com esta afirmação é essa ideia limitada, é o ego a reagir, a defender-se para manter o seu controle, para sobreviver. O sofrimento é a estória que o ego cria sobre acontecimentos por si criados, são todas as assumções, todos os julgamentos sobre o que aconteceu.

A dor é real e quando ocorre é sempre no presente, já o sofrimento é a estória que se cria a partir dessa dor. O sofrimento alimenta-se a si próprio, vai criando mais estórias e procura evidências sobre a razão de existir. Quanto mais identificado com essa ideia limitada de si, com o ego, mais se entrega a esse sofrimento, mais vítima das circunstâncias se torna.

O sofrimento não é bom, nem mau por si só, ele pode ser usado como um meio de aprendizagem, como uma meio de se descolar dessa ilusão de limitação, dessa ideia de ser apenas um corpo e a mente que o controla. E faz isso observando o sofrimento, observando a estória que ele acarreta, sem assumir esse sofrimento como sendo algo que possua, como sendo uma propriedade sua, como sendo algo que a identifica.

Aconteça o que acontecer nada disso influi naquilo que é em essência. Tudo aquilo que julga faltar, já é parte da essência. A iluminação, o elevar de consciência já existe em essência, já é tudo isso, aqui e agora.

Mesmo que não tenha consciência disso, pois quem não tem consciência disso é o ego, é essa ideia limitada de si. E é natural que assim seja, faz parte do jogo de ser humano, se não fosse para ser assim, então não o seria.

O resultado final deste jogo é que tudo é perfeito assim como é, que o verdadeiro objetivo não é o resultado final, pois ele já existe desde o ponto de partida, mas sim o desfrutar da experiência que acontece momento a momento.

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